O Neoclassicismo foi um movimento cultural dominante na arte
europeia entre o final do século XVIII e início do século XIX. Caracteriza-se
principalmente pela revalorização dos valores artísticos gregos e
romanos, provavelmente estimulada pelas escavações e descobertas que
estavam sendo realizadas no período nos sítios arqueológicos de Pompeu,
Herculano e Atenas.
Os heróis
gregos e a simplicidade
da arte eram alguns aspectos extremamente admirados dessas civilizações. O Neoclassicismo propõe um retorno à simplicidade
e perfeição do primeiro Classicismo
e a condenação do Barroco. O
entusiasmo pela arte antiga, a recuperação do espírito heroico e dos padrões
decorativos da Grécia e Roma se beneficiam da pesquisa arqueológica (das
descobertas das cidades de Herculano em 1738 e Pompéia em 1748) e da obra dos
alemães radicados na Itália, o pintor Anton Raphael Mengs (1728 - 1779) e
o historiador da arte e arqueólogo Joachim Johann Winckelmann (1717 - 1768),
principal teórico do neoclassicismo.
O
Arcadismo ou Neoclassicismo se opõe a definição e o rigor formal. Contra uma
concepção de arte de atmosfera romântica, apoiada na imaginação e no
virtuosismo individual, os neoclássicos defendem a supremacia da técnica e a
necessidade do projeto.
Arquitetura Neoclássica |
Os princípios estéticos gerais do arcadismo podem resumir-se em:
- Condenação absoluta do cultismo e do conceptismo;
- Aceitação do conceito aristotélico da Arte (a Arte é imitação da Natureza );
- Sentido de equilíbrio e proporção na obra literária;
- Exposição simples e natural dos assuntos, evitando perífrases e chamando as coisas pelos seus nomes;
- Necessidade de imitação dos antigos, mas só no que têm de bom;
- Condenação da rima;
- Aceitação da crítica construtiva como se fora um conselho amigo. A crítica era instituição oficial da Arcádia;
- Reconhecimento da função moderadora da poesia.
Características
histórico-político-sociais e estéticas do século XVIII:
- revalorização dos ideais clássicos: o equilíbrio, o bom senso, a apologia da experiência;
- referência ao despotismo esclarecido, ao iluminismo e aos estrangeirados;
- predominância dos motivos e temas clássicos: o locus amoenus, o ideal da aurea mediocritas, o carpe diem , referências mitológicas...
- uso exclusivo de formas poéticas clássicas: soneto, odes, epigramas, epístolas, cantatas, canções, elegias, sátiras;
- reação contra os excessos ideológico-formais do Barroco (Séc. XVII) através da criação das academias;
- papel preponderante dos salões literários e dos cafés na animação cultural do país e na transmissão de uma nova sensibilidade que se adivinha: o Pré-Romantismo (Segunda metade do século XVIII);
- época de grandes mudanças a nível mundial ( independência dos EUA em 1776 e Revolução Francesa em 1789);
- valorização da liberdade, quer a nível social, quer estético e individual.
Outras
características importantes do movimento são:
- valorização da vida no campo (bucolismo);
- crítica a vida nos centros urbanos;
- objetividade;
- idealização da mulher amada;
- inutilia truncat (cortar o inútil);
- locus amoenus (lugar agradável);
- convencionalismo amoroso;
- aurea mediocritas (mediocridade áurea ou ouro medíocre);
- linguagem simples;
- uso de pseudônimos com frequência;
- pastoralismo.
Durante
o século XVIII, alguns escritores portugueses se destacaram:
Escolhemos dois
autores que se destacaram neste período:
Manuel
Maria Barbosa Du Bocage:
O poeta português Manuel Maria Barbosa du Bocage, também
conhecido com o pseudônimo árcade de Elmano Sadino ( Elmano é um anagrama de
Manuel e Sadino é relativo ao rio Sado, que corta a cidade de Setúbal, onde
nasceu em 15 de setembro de 1765). Além das inúmeras experiências amorosas, ele
viveu aventuras nas colônias portuguesas do Oriente como na Índia (Goa) e na
China (Macau), teve quase o mesmo caminho que de Camões. Como ele, Bocage
também se incorporou em companhias militares, lutou na guerra, naufragou, amou
muitas mulheres e sofreu com elas, foi preso e morreu na miséria.
Foi na lírica, em especial nos
sonetos, que Bocage atingiu o ponto alto de sua obra, embora também tenha se
destacado como poeta satírico e erótico.
Bocage é considerado o melhor
escritor português do século XVIII e, ao lado de Camões e de Antero de Quental,
um dos três maiores sonetistas de toda a literatura portuguesa. Isso ocorreu
porque sua obra traduz o momento transitório que viveu (1765-1805), ou seja, um
período marcado por mudanças profundas, como a Revolução Francesa (1789) e o
florescimento do Romantismo. Assim, a obra de Bocage, em sua totalidade, não é
árcade nem romântica: é uma obra de transição, que apresenta simultaneamente
aspectos dos dois movimentos literários.
Marquesa de Alorna:A frouxidão no amor é uma ofensa
A frouxidão no amor é uma ofensa,
Ofensa que se eleva a grau supremo;
Paixão requer paixão, fervor e extremo;
Com extremo e fervor se recompensa.
Ofensa que se eleva a grau supremo;
Paixão requer paixão, fervor e extremo;
Com extremo e fervor se recompensa.
Vê qual sou, vê qual és, vê que diferença!
Eu descoro, eu praguejo, eu ardo, eu gemo;
Eu choro, eu desespero, eu clamo, eu tremo;
Em sombras a razão se me condensa.
Eu descoro, eu praguejo, eu ardo, eu gemo;
Eu choro, eu desespero, eu clamo, eu tremo;
Em sombras a razão se me condensa.
Tu só tens gratidão, só tens brandura,
E antes que um coração pouco amoroso
Quisera ver-te uma alma ingrata e dura.
E antes que um coração pouco amoroso
Quisera ver-te uma alma ingrata e dura.
Talvez me enfadaria aspecto iroso,
Mas de teu peito a lânguida ternura
Tem-me cativo e não me faz ditoso.
Mas de teu peito a lânguida ternura
Tem-me cativo e não me faz ditoso.
Importuna Razão, não me persigas
Importuna Razão, não me persigas;
Cesse a ríspida voz que em vão murmura;
Se a lei de Amor, se a força da ternura
Nem domas, nem contrastas, nem mitigas;
Cesse a ríspida voz que em vão murmura;
Se a lei de Amor, se a força da ternura
Nem domas, nem contrastas, nem mitigas;
Se acusas os mortais, e os não abrigas,
Se (conhecendo o mal) não dás a cura,
Deixa-me apreciar minha loucura,
Importuna Razão, não me persigas.
Se (conhecendo o mal) não dás a cura,
Deixa-me apreciar minha loucura,
Importuna Razão, não me persigas.
É teu fim, teu projecto encher de pejo
Esta alma, frágil vítima daquela
Que, injusta e vária, noutros laços vejo.
Esta alma, frágil vítima daquela
Que, injusta e vária, noutros laços vejo.
Queres que fuja de Marília bela,
Que a maldiga, a desdenhe; e o meu desejo
É carpir, delirar, morrer por ela.
Que a maldiga, a desdenhe; e o meu desejo
É carpir, delirar, morrer por ela.
Poetisa, tradutora e
pedagoga portuguesa, nascida em 1750 e falecida em 1839, D. Leonor de Almeida
Portugal Lorena e Lencastre, mais conhecida por Marquesa de Alorna, foi uma
figura de rara erudição, autora de uma obra epistolar ainda por descobrir e
grande divulgadora das novas ideias vindas da Europa.
No recinto
eclesiástico, onde viveu desde os oito anos, ocupava o tempo com música, poesia
e com os amigos e pretendentes literatos que alimentavam a sua formação
arcádica.
A sua extensa obra denuncia tendências
diversas como o arcadismo, presente nas suas traduções de autores
greco-latinos, que vão a par de outras traduções de autores modernos; a poesia
cientista (Recreações Botânicas) e o sentimentalismo e melancolia
expressos em algumas composições. Percorreu os mais variados subgêneros e
estruturas formais (epístolas, odes, sonetos, éclogas, elegias, canções,
apólogos, epigramas, cantigas), colorindo-os ora de laivos de filosofismo, ora
de sentimentalismo pré-romântico. Denuncia esta última, tendência à forma como
concebe a poesia, desabafo de mágoas: A lira move mais lavada em pranto (Poesias,
ed. Sá da Costa, 1941, p. 28); o fatalismo que impregna a sua visão das coisas:
O Fado contra mim tudo provoca (p. 114); o gosto da solidão melancólica;
a tendência para o devaneio; a obsessão do noturno e do fúnebre e a projeção do
estado de alma no mundo circundante. Também no estilo, apesar da mitologia e
dos epítetos clássicos, revela um coração nitidamente romântico pelas
exclamações e adjetivação violenta.
Referências Bibliográficas:
Soneto
Eu
canterei um dia de tristeza
Por um
termos tão ternos e saudosos,
Que
deixam os alegres invejoso
De
chorarem o mal que lhes não pesa.
Abrandarei
das penhas a dureza,
Exalando
suspiros tão queixosos,
Que
jamais os rochedos cavernosos
Os
repitam da mesma natureza.
Serras,
penhascos, troncos, arvoredos,
Alve,
fonete, montanha, flor, corrente,
Comigo
hão-de chorar de amor enredos.
Mas ah!
que adoro uma alma que não sente!
Guarda,
Amor, os teus pérfidos segredos,
Que eu
derramo os meus ais inutilmente.
ÀS MUSAS
Co'a
frauta agreste os beiços compremindo,
Desde que
alva a manhã se despertava,
Ante Febo
submissa me prostrava,
O sublime
furor ao Deus pedindo.
Iam-se os
Céus co'a clara luz abrindo,
Morfeu ao
mundo alegre costas dava,
E Délio,
sem mostrar que m'escutava
A rápida
carreira prosseguindo.
Sobre a
tripode em vão triste me sento,
Corro os
três tetracordes sobre a lira,
Nenhum
iguala a voz do meu tormento.
Musas
cruéis, se aquele que delira
Mil vezes
em vós acha acolhimento,
Porque
não confortais a quem suspira?
Literatura
na Net. Disponível em: http://mariamarcelino.tripod.com/neoclassicismo.htm
Infopédia. Neoclassicismo. Disponível em: http://www.infopedia.pt/$neoclassicismo
Enciclopédia Itaú Cultural. Neoclassicismo. Disponível em: http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=361
Farol das Letras. Disponível em: http://faroldasletras.no.sapo.pt/bocage.html#magro
Literatura e Arte. Disponível em: http://literaturaearte.blogspot.com.br/2008/11/marquesa-de-alorna1750-1839.html
Infopédia. Marquesa de Alorna. Disponível em: http://www.infopedia.pt/$marquesa-de-alorna
Cola
da web. Neoclassicismo. Disponível em:
http://www.coladaweb.com/artes/neoclassicismo
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