quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Neoclassicismo ou Arcadismo



O Neoclassicismo foi um movimento cultural dominante na arte europeia entre o final do século XVIII e início do século XIX. Caracteriza-se principalmente pela revalorização dos valores artísticos gregos e romanos, provavelmente estimulada pelas escavações e descobertas que estavam sendo realizadas no período nos sítios arqueológicos de Pompeu, Herculano e Atenas.
Os heróis gregos e a simplicidade da arte eram alguns aspectos extremamente admirados dessas civilizações. O Neoclassicismo propõe um retorno à simplicidade e perfeição do primeiro Classicismo e a condenação do Barroco. O entusiasmo pela arte antiga, a recuperação do espírito heroico e dos padrões decorativos da Grécia e Roma se beneficiam da pesquisa arqueológica (das descobertas das cidades de Herculano em 1738 e Pompéia em 1748) e da obra dos alemães radicados na Itália, o pintor Anton Raphael Mengs (1728 - 1779) e o historiador da arte e arqueólogo Joachim Johann Winckelmann (1717 - 1768), principal teórico do neoclassicismo.
            O Arcadismo ou Neoclassicismo se opõe a definição e o rigor formal. Contra uma concepção de arte de atmosfera romântica, apoiada na imaginação e no virtuosismo individual, os neoclássicos defendem a supremacia da técnica e a necessidade do projeto.

Arquitetura Neoclássica
Os princípios estéticos gerais do arcadismo podem resumir-se em:

  • Condenação absoluta do cultismo e do conceptismo;
  • Aceitação do conceito aristotélico da Arte (a Arte é imitação da Natureza );
  •   Sentido de equilíbrio e proporção na obra literária;
  • Exposição simples e natural dos assuntos, evitando perífrases e chamando as coisas pelos seus nomes;
  • Necessidade de imitação dos antigos, mas só no que têm de bom;
  • Condenação da rima;
  • Aceitação da crítica construtiva como se fora um conselho amigo. A crítica era instituição oficial da Arcádia;
  •  Reconhecimento da função moderadora da poesia.
    
 Características histórico-político-sociais e estéticas do século XVIII:
 
  • revalorização dos ideais clássicos: o equilíbrio, o bom senso, a apologia da experiência;
  • referência ao despotismo esclarecido, ao iluminismo e aos estrangeirados;
  • predominância dos motivos e temas clássicos: o locus amoenus, o ideal da aurea mediocritas, o carpe diem , referências mitológicas...
  •   uso exclusivo de formas poéticas clássicas: soneto, odes, epigramas, epístolas, cantatas, canções, elegias, sátiras;
  •  reação contra os excessos ideológico-formais do Barroco (Séc. XVII) através da criação das academias;
  •  papel preponderante dos salões literários e dos cafés na animação cultural do país e na transmissão de uma nova sensibilidade que se adivinha: o Pré-Romantismo (Segunda metade do século XVIII);
  • época de grandes mudanças a nível mundial ( independência dos EUA em 1776 e Revolução Francesa em 1789);
  •  valorização da liberdade, quer a nível social, quer estético e individual.

Outras características importantes do movimento são:

  • valorização da vida no campo (bucolismo);
  • crítica a vida nos centros urbanos;
  • objetividade;
  • idealização da mulher amada;
  • inutilia truncat (cortar o inútil);
  • locus amoenus (lugar agradável);
  • convencionalismo amoroso;
  • aurea mediocritas (mediocridade áurea ou ouro medíocre);
  • linguagem simples;
  • uso de pseudônimos com frequência;
  • pastoralismo.

Durante o século XVIII, alguns escritores portugueses se destacaram: 


Escolhemos dois autores que se destacaram neste período:

Manuel Maria Barbosa Du Bocage:

O poeta português Manuel Maria Barbosa du Bocage, também conhecido com o pseudônimo árcade de Elmano Sadino ( Elmano é um anagrama de Manuel e Sadino é relativo ao rio Sado, que corta a cidade de Setúbal, onde nasceu em 15 de setembro de 1765). Além das inúmeras experiências amorosas, ele viveu aventuras nas colônias portuguesas do Oriente como na Índia (Goa) e na China (Macau), teve quase o mesmo caminho que de Camões. Como ele, Bocage também se incorporou em companhias militares, lutou na guerra, naufragou, amou muitas mulheres e sofreu com elas, foi preso e morreu na miséria.
Foi na lírica, em especial nos sonetos, que Bocage atingiu o ponto alto de sua obra, embora também tenha se destacado como poeta satírico e erótico.
            Bocage é considerado o melhor escritor português do século XVIII e, ao lado de Camões e de Antero de Quental, um dos três maiores sonetistas de toda a literatura portuguesa. Isso ocorreu porque sua obra traduz o momento transitório que viveu (1765-1805), ou seja, um período marcado por mudanças profundas, como a Revolução Francesa (1789) e o florescimento do Romantismo. Assim, a obra de Bocage, em sua totalidade, não é árcade nem romântica: é uma obra de transição, que apresenta simultaneamente aspectos dos dois movimentos literários.

A frouxidão no amor é uma ofensa


A frouxidão no amor é uma ofensa,
Ofensa que se eleva a grau supremo;
Paixão requer paixão, fervor e extremo;
Com extremo e fervor se recompensa.

Vê qual sou, vê qual és, vê que diferença!
Eu descoro, eu praguejo, eu ardo, eu gemo;
Eu choro, eu desespero, eu clamo, eu tremo;
Em sombras a razão se me condensa.

Tu só tens gratidão, só tens brandura,
E antes que um coração pouco amoroso
Quisera ver-te uma alma ingrata e dura.

Talvez me enfadaria aspecto iroso,
Mas de teu peito a lânguida ternura
Tem-me cativo e não me faz ditoso.




Importuna Razão, não me persigas

Importuna Razão, não me persigas;
Cesse a ríspida voz que em vão murmura;
Se a lei de Amor, se a força da ternura
Nem domas, nem contrastas, nem mitigas;

Se acusas os mortais, e os não abrigas,
Se (conhecendo o mal) não dás a cura,
Deixa-me apreciar minha loucura,
Importuna Razão, não me persigas.

É teu fim, teu projecto encher de pejo
Esta alma, frágil vítima daquela
Que, injusta e vária, noutros laços vejo.

Queres que fuja de Marília bela,
Que a maldiga, a desdenhe; e o meu desejo
É carpir, delirar, morrer por ela.
   

Marquesa de Alorna:

Poetisa, tradutora e pedagoga portuguesa, nascida em 1750 e falecida em 1839, D. Leonor de Almeida Portugal Lorena e Lencastre, mais conhecida por Marquesa de Alorna, foi uma figura de rara erudição, autora de uma obra epistolar ainda por descobrir e grande divulgadora das novas ideias vindas da Europa.
No recinto eclesiástico, onde viveu desde os oito anos, ocupava o tempo com música, poesia e com os amigos e pretendentes literatos que alimentavam a sua formação arcádica.
 A sua extensa obra denuncia tendências diversas como o arcadismo, presente nas suas traduções de autores greco-latinos, que vão a par de outras traduções de autores modernos; a poesia cientista (Recreações Botânicas) e o sentimentalismo e melancolia expressos em algumas composições. Percorreu os mais variados subgêneros e estruturas formais (epístolas, odes, sonetos, éclogas, elegias, canções, apólogos, epigramas, cantigas), colorindo-os ora de laivos de filosofismo, ora de sentimentalismo pré-romântico. Denuncia esta última, tendência à forma como concebe a poesia, desabafo de mágoas: A lira move mais lavada em pranto (Poesias, ed. Sá da Costa, 1941, p. 28); o fatalismo que impregna a sua visão das coisas: O Fado contra mim tudo provoca (p. 114); o gosto da solidão melancólica; a tendência para o devaneio; a obsessão do noturno e do fúnebre e a projeção do estado de alma no mundo circundante. Também no estilo, apesar da mitologia e dos epítetos clássicos, revela um coração nitidamente romântico pelas exclamações e adjetivação violenta.



Soneto 

Eu canterei um dia de tristeza
Por um termos tão ternos e saudosos,
Que deixam os alegres invejoso
De chorarem o mal que lhes não pesa.

Abrandarei das penhas a dureza,
Exalando suspiros tão queixosos,
Que jamais os rochedos cavernosos
Os repitam da mesma natureza.

Serras, penhascos, troncos, arvoredos,
Alve, fonete, montanha, flor, corrente,
Comigo hão-de  chorar de amor enredos.

Mas ah! que adoro uma alma que não sente!
Guarda, Amor, os teus pérfidos segredos,
Que eu derramo os meus ais inutilmente.



ÀS MUSAS


Co'a frauta agreste os beiços compremindo,
Desde que alva a manhã se despertava,
Ante Febo submissa me prostrava,
O sublime furor ao Deus pedindo.


Iam-se os Céus co'a clara luz abrindo,
Morfeu ao mundo alegre costas dava,
E Délio, sem mostrar que m'escutava
A rápida carreira prosseguindo.


Sobre a tripode em vão triste me sento,
Corro os três tetracordes sobre a lira,
Nenhum iguala a voz do meu tormento.


Musas cruéis, se aquele que delira
Mil vezes em vós acha acolhimento,
Porque não confortais a quem suspira?
 




Referências Bibliográficas: 


Literatura na Net. Disponível em: http://mariamarcelino.tripod.com/neoclassicismo.htm

Infopédia. Neoclassicismo. Disponível em: http://www.infopedia.pt/$neoclassicismo

Enciclopédia Itaú Cultural. Neoclassicismo. Disponível em: http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=361

Farol das Letras. Disponível em:  http://faroldasletras.no.sapo.pt/bocage.html#magro

Literatura e Arte. Disponível em: http://literaturaearte.blogspot.com.br/2008/11/marquesa-de-alorna1750-1839.html

Infopédia. Marquesa de Alorna. Disponível em: http://www.infopedia.pt/$marquesa-de-alorna
Cola da web. Neoclassicismo. Disponível em: http://www.coladaweb.com/artes/neoclassicismo

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário